Professora usa elementos do folclore para educação ambiental
Especialista desenvolve oficinas para professores de Corumbá, Miranda e Anastácio a partir de materiais didáticos produzidos com base na lenda do Saci-Pererê.
 
Quase 200 professores da rede pública de Corumbá, Miranda e Anastácio participaram de uma oficina sobre educação ambiental. A atividade, realizada em fevereiro nos três municípios – e que contou com um encontro extra em março, em Anastácio –, foi desenvolvida pelo Programa de Educação Ambiental (PEA) que acontece durante as obras de recuperação de pista e implantação de acostamentos na BR 262, no trecho entre Anastácio e Corumbá. A gestão ambiental do empreendimento é realizada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (ITTI), em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
 
Em entrevista, a professora da UFPR e responsável pelas oficinas, Christiane Gioppo, comenta sobre a importância do trabalho junto aos professores municipais, a partir do mapeamento do bioma e de sua relação com o campo da cultura, especialmente com o folclore. “Essa escolha ocorreu por conta do caráter interdisciplinar que possibilita conciliar a percepção ambiental com a formação cultural dos professores”, comenta Gioppo. Além disso, a professora também conta um pouco da primeira experiência nos três municípios. Confira.
 
Como foi a primeira parte da oficina em Corumbá, Miranda e Anastácio?
Foi ótima. Em Corumbá trabalhamos com um grupo de 40 professores. O curioso é que havia vários profissionais de outras regiões da cidade, professores que vieram de áreas mais afastadas e aqueles que vieram de escolas que não participariam inicialmente do projeto – eles foram convidados e resolveram se integrar ao grupo, o que foi muito produtivo à atividade.
 
Já em Miranda tivemos dois dias de oficina e atendemos 80 profissionais. Primeiro trabalhamos com um grupo de professores da área urbana e depois com outro grupo de professores de uma escola indígena bilíngue. E boa parte desse grupo era composta por professores da etnia Terena. Então isso me chamou bastante atenção porque eles têm toda uma filosofia de vida diferenciada e uma relação com a questão ambiental.
 
 
 
E em Anastácio…
Em Anastácio a ação não pôde ser realizada integralmente no dia programado. Nós fizemos somente quatro horas de atividade – o que impediu de realizarmos a parte de campo. Particularmente, chamou a atenção o poder das emissoras de rádio junto à comunidade, já que durante a oficina uma das pessoas soube pela rádio e veio participar. Inclusive, a própria representante da Secretaria Municipal de Educação também escutou e veio conversar com a gente. Ela disse então que boa parte dos professores de outra escola não pôde comparecer e pediu para que a gente voltasse para fazer a atividade com essa outra escola.
 
E como foi o retorno a Anastácio este mês?
Quando nós voltamos lá o que achei muito interessante é que a escola não chamou só os professores para participar, mas também pais, alunos adultos que fazem parte do cotidiano da escola e alunos das séries do ensino fundamental, que colaborariam com os professores na execução da atividade. Fiquei com a certeza de que na hora em que eles forem executar a ação proposta isso vai ser muito significativo.
 
Conte sobre sua metodologia de trabalho. Por que a escolha em trabalhar com o Saci?
Nossa ideia foi fazer uma relação transversal com as diversas áreas do conhecimento. Nós encontramos uma estratégia de trabalhar com uma entidade da “mitologia brasileira” que é o Saci. Essa história começou quando percebemos que nos livros de biologia algumas imagens de fungos e capítulos que tratavam sobre fungos traziam imagens de duendes, de sacis… E nós então começamos a nos questionar por que isso acontecia.
Então estudamos a história do Saci e percebemos que em algumas delas – e há várias versões dessa lenda por todo o país – o Saci nasce dentro de um broto de bambu e ali vive sete anos. E quando ele morre se transforma num cogumelo venenoso. O curioso é que a capa vermelha do cogumelo é justamente o capuzinho do Saci. E foi aí que a gente teve a ideia de usar o Saci como fio condutor de todo o trabalho sobre a questão ambiental.
E quando fomos trabalhar com os professores percebemos que eles faziam apenas o que estava no livro didático. E era muito pouco! E normalmente eles não gostavam de trabalhar com esse tema – ou porque tinham nojo ou não gostavam de trabalhar com fungos. Acabavam pulando o assunto.
Então fomos examinar os livros. Descobrimos então que os livros tratam pouquíssimo da questão dos fungos e cogumelos.
 
E então vocês começaram a desenvolver livros?
Isso. O primeiro deles conta a história do Saci. Na história ele mora numa floresta e alguém foi lá e jogou uma guimba de cigarro e a floresta incendiou. Então o Saci não pode mais viver ali. Ele tem que buscar outro lugar para morar. Quando vai para diferentes regiões do Brasil encontra os diversos biomas. Então a história diz: “O Saci veio para o Sul, mas aí ele pegou um resfriado e não conseguia ficar descalço… Teve o pé congelado e decidiu ir para outro lugar. Aí ele foi para o Nordeste e tal, e tal…”.
Só que os dois livros não tratam exatamente do Saci conhecido no Pantanal e nem o Saci escolhe o Pantanal para viver. E foi esse o nosso fio condutor no desafio no trabalho com os professores, porque a gente pensava: “Será que não existe um Saci do Pantanal?”.
Então vamos tentar ver o que o Saci poderia ter feito por aqui a partir das histórias que os professores conhecem. Por que será que o Saci não escolhe o Pantanal para viver? Será que ele não conheceu direito? Então o que a gente precisa é conhecer melhor o Pantanal e são os professores que vão dizer como é a região. Eles conhecem a região, eu sou de fora.
 
E como funciona a atividade prática da oficina?
Na sequência do trabalho a gente escolhe uma área muito simples – pode ser perto da escola mesmo – e vai lá mede, fotografa, localiza vegetais característicos da região, descreve os vegetais. Então todo o trabalho é conduzido assim: pelo Saci e nessas situações. E com isso a gente vai utilizando a literatura infantil, o livro-jogo que trabalha os biomas, depois a gente vai medir a mapear uma área – e a gente vai usar a geografia e a matemática –, e aí depois os alunos e professores passam a escrever uma carta para o Saci ressaltando aspectos do Pantanal.
 
Qual é a próxima etapa?
Vai ser uma exposição, no início de maio, com os resultados do trabalho desenvolvido com os estudantes. Nós pedimos para que os professores em conjunto com os estudantes escrevessem uma carta para o Saci. E a nossa ideia é selecionar várias páginas e criar um livro que caracterize o Saci do Pantanal.
 Especialista desenvolve oficinas para professores de Corumbá, Miranda e Anastácio a partir de materiais didáticos produzidos com base na lenda do Saci-Pererê.

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Quase 200 professores da rede pública de Corumbá, Miranda e Anastácio participaram de uma oficina sobre educação ambiental. A atividade, realizada em fevereiro nos três municípios – e que contou com um encontro extra em março, em Anastácio –, foi desenvolvida pelo Programa de Educação Ambiental (PEA) que acontece durante as obras de recuperação de pista e implantação de acostamentos na BR 262, no trecho entre Anastácio e Corumbá. A gestão ambiental do empreendimento é realizada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (ITTI), em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

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Em entrevista, a professora da UFPR e responsável pelas oficinas, Christiane Gioppo, comenta sobre a importância do trabalho junto aos professores municipais, a partir do mapeamento do bioma e de sua relação com o campo da cultura, especialmente com o folclore. “Essa escolha ocorreu por conta do caráter interdisciplinar que possibilita conciliar a percepção ambiental com a formação cultural dos professores”, comenta Gioppo. Além disso, a professora também conta um pouco da primeira experiência nos três municípios. Confira.

Como foi a primeira parte da oficina em Corumbá, Miranda e Anastácio?
Foi ótima. Em Corumbá trabalhamos com um grupo de 40 professores. O curioso é que havia vários profissionais de outras regiões da cidade, professores que vieram de áreas mais afastadas e aqueles que vieram de escolas que não participariam inicialmente do projeto – eles foram convidados e resolveram se integrar ao grupo, o que foi muito produtivo à atividade.

Já em Miranda tivemos dois dias de oficina e atendemos 80 profissionais. Primeiro trabalhamos com um grupo de professores da área urbana e depois com outro grupo de professores de uma escola indígena bilíngue. E boa parte desse grupo era composta por professores da etnia Terena. Então isso me chamou bastante atenção porque eles têm toda uma filosofia de vida diferenciada e uma relação com a questão ambiental.

E em Anastácio…
Em Anastácio a ação não pôde ser realizada integralmente no dia programado. Nós fizemos somente quatro horas de atividade – o que impediu de realizarmos a parte de campo. Particularmente, chamou a atenção o poder das emissoras de rádio junto à comunidade, já que durante a oficina uma das pessoas soube pela rádio e veio participar. Inclusive, a própria representante da Secretaria Municipal de Educação também escutou e veio conversar com a nossa equipe. Ela disse então que boa parte dos professores de outra escola não pôde comparecer e pediu para voltássemos para fazer a atividade com essa outra escola.

E como foi o retorno a Anastácio este mês?
Quando nós voltamos lá o que achei muito interessante é que a escola não chamou só os professores para participar, mas também pais, alunos adultos que fazem parte do cotidiano da escola e alunos do 6º ao 9º ano da Educação Básica, que colaborariam com os professores na execução da atividade. Fiquei com a certeza de que na hora em que eles forem executar a ação proposta isso vai ser muito significativo.

Conte sobre sua metodologia de trabalho. Por que a escolha em trabalhar com o Saci?
Nós encontramos uma estratégia de trabalhar com uma entidade do folclore brasileiro que é o Saci. Essa história começou com uma pesquisa desenvolvida na UFPR em que percebemos que nos livros de ciências das séries iniciais algumas imagens de fungos e capítulos que tratavam sobre fungos traziam imagens de duendes, de sacis… E nós então começamos a nos questionar por que isso acontecia.Então estudamos a história do Saci e percebemos que em algumas delas – e há várias versões dessa lenda por todo o país – o Saci nasce dentro de um broto de bambu e ali vive sete anos. E quando ele morre se transforma num cogumelo venenoso. O curioso é que a parte de cima desse cogumelo, que é vermelha, é justamente o capuzinho do Saci. E foi aí que a gente teve a ideia de usar o Saci como fio condutor de todo o trabalho sobre a questão ambiental.

Nossa equipe continuou trabalhando com os professorese eles mencionaram que enfatizavam basicamente o que estava no livro didático. E era muito pouco! Eles os disseram que não gostavam de trabalhar com esse tema – alguns porque tinham nojo outros porque o tema era mais difícil. Acabavam pulando o assunto.

Então fomos examinar os livros didáticos de ciências das séries iniciais . Descobrimos então que os livros tratam pouquíssimo da questão dos fungos e cogumelos.
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E então vocês começaram a desenvolver livros?
Isso. O primeiro deles foi desenvolvido por alunos do curso de Biologia da UFPR no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e conta uma história do Saci. Nessa história ele mora numa floresta e alguém foi lá e jogou uma guimba de cigarro e a floresta incendiou. Então o Saci não pode mais viver ali. Ele tem que buscar outro lugar para morar. Quando vai para diferentes regiões do Brasil encontra os diversos biomas. Como o livro é um jogo, os leitores podem escolher para onde querem ir.  Em uma das opções o Saci vem para o Sul, mas aí ele pegou um resfriado e decidiu ir para outro lugar. Assim ele vai visitando os biomas brasileiros.

Só que os dois livros não tratam exatamente das histórias e caracterizações do Saci conhecido no Pantanal e nem o Saci escolhe o Pantanal para viver. E foi esse o fio condutor no trabalho com os professores, porque nós desafiávamos os grupos perguntando: “Será que não existe um Saci característico do Pantanal?”

A partir da primeira pergunta os professores contam inúmeras histórias de Saci que eles ouviram ao longo da vida e até mesmo vivenciaram.  Depois questionamos porque o Saci da história não escolheu o Pantanal para viver? Será que ele as informações que ele teve foram suficientes para ele tomar essa decisão?  Com isso propomos que os professores façam o recorte de uma pequena área do pantanal e a estudem, mostrando coisas que complementem as informações do livro.  Então o que a gente precisa é descrever melhor o Pantanal, melhorando o texto do livro, afinal os professores são os moradores da região, eles a conhecem, eu sou de fora.

E como funciona a atividade prática da oficina?
Na sequência do trabalho a gente escolhe uma área muito simples – pode ser perto da escola mesmo – e vai lá mede, fotografa, localiza vegetais característicos da região, descreve os vegetais e também alguns animais, podem ser formigas, borboletas, joaninhas, etc. Então todo o trabalho é conduzido assim: pelo Saci e nessas situações. E com isso a gente vai utilizando a literatura infantil, o livro-jogo que trabalha os biomas, depois a gente vai medir a mapear uma área – e a gente vai usar a geografia e a matemática –, e aí depois da área reconhecida e fotografada, os alunos e professores escolhem uma das fotos que enfatiza as características e os problemas locais e, para finalizar escrevem uma carta para o Saci ressaltando esses aspectos. 

É importante enfatizar que eles não precisam “acreditar” em Saci, apenas entrar na brincadeira e reconhecer o Saci como parte do folclore e das diferentes culturas brasileiras.

Qual é a próxima etapa?
Vai ser uma exposição, no início de maio, com os resultados do trabalho desenvolvido com os estudantes. Nós pedimos para que os professores em conjunto com os estudantes trouxessem para a exposição cinco produtos: uma fotografia da área estudada tirada pelo professor e outra tirada por um de seus alunos, o mapeamento da área feito em papel milimetrado; uma carta para o Saci, descrevendo a área e o que foi fotografado e uma história local sobre o Saci.  Para esta última nossa ideia é selecionar algumas histórias  e criar um livro que caracterize o Saci do Pantanal.

Hendryo André
Assessoria de Comunicação
ITTI – Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura
(41) 3226 6658 | [email protected]